Uma das minhas resoluções de ano novo é parar de minimizar as coisas que eu gosto. Percebi que tenho o hábito de me desculpar por gostar de coisas que não são percebidas como algo com alto valor intelectual, artístico, ou pior: de menininha. Quando ia falar delas sempre começava com “é meio bobo mas", "não mudou minha vida mas”, dando justificativas que ninguém necessariamente pediu.
Não consigo lembrar exatamente quando foi que comecei a me desculpar por ser boba, mas provavelmente foi por ali na pré-adolescência onde entrei na minha fase pick me. Rejeitava qualquer coisa que fosse rosa ou muito feminina, e comecei a ouvir bandas de rock mais alternativas porque eu não era boba, não era menininha, eu gostava de rock, eu não era como as outras garotas, eu era inteligente e era pra ser levada a sério. Acho que qualquer pessoa que cresceu mulher consegue se identificar com essa fase.
Mas o bom é que quando a gente vai envelhecendo, vai parando de se importar com o que os outros pensam. Seja porque a gente cansou de se importar, porque finalmente percebemos que tá todo mundo mais ou menos na mesma situação ou porque entendemos que vamos todos morrer então o que custa se divertir de vez em quando?
Eu gosto de filmes de golpe e filmes de natal. Gosto de documentários e de reality shows. Gosto de bandas indies de rock e de kpop. Gosto de arte moderna complexa e de desenhos fofos com mensagens engraçadinhas. Gosto de assistir coisas que me fazem pensar e coisas que deixam o meu cérebro parar de rodar a todo vapor por 30 minutos. Uma coisa não exclui a outra, elas só fazem parte dos pedacinhos que me constroem.
Isso não se aplica só no meu gosto por cultura pop. Vai da nóia com o meu corpo por começar a ouvir que precisava emagrecer quando eu tinha uns 10 anos, ou que eu precisava pensar mais nas roupas que eu usava quando eu tinha uns 8, ou que eu precisava me comportar de forma mais feminina quando eu tinha uns 14.
Por muito tempo eu julguei e diminui partes de mim. Agora tenho um longo caminho para percorrer em direção a voltar a ser quem eu sou, quem eu já fui antes de me dobrar para caber em uma caixinha. Sem me importar com o que outros pensam, sem esperar validação, sem sentir a necessidade de corresponder expectativas. Mas vou começar aos poucos, com uma coisa boba.
Que delícia esse texto! Falou tudo!
Nessa de achar que as coisas são bobas eu me arrependi horrores de não ter ido no show dos Backstreet Boys que semana passada. No dia seguinte eu fiquei um lixo! Tinha subestimado o quanto aquilo era importante pra mim. Eu me contei a mentira de que era só uma banda que eu gostava quando era criança/adolescente. Achei que era coisa boba :/