Eu sempre gostei de reassistir coisas, seja porque acho confortável consumir alguma coisa quando o meu cérebro está numa situ de não conseguir processar novas informações ou seja pra ver se envelheceu bem.
Na minha nova série “Envelheceu como vinho ou leite?” eu vou revisitar filmes e séries que assisti no passado e decidir, de acordo com meus critérios completamente arbitrários, se envelheceu deliciosamente como um vinho tinto envelhecido em um barril da melhor madeira do mundo ou como um copo de leite esquecido fora da geladeira por 3 dias em um calor de 40 graus.
E não poderia deixar de começar com 2 comédias românticas, um dos meus gêneros preferidos para revisitar.
10 COISAS QUE ODEIO EM VOCÊ (1999)
Esse já começa com a vantagem de ser uma adaptação de Shakespeare. Mas além disso, tem uma trilha sonora ótima, um elenco excelente e entrega uma coisa que é cada vez mais rara em comédias românticas: comédia.
Já reassisti diversas vezes e toda vez reparo em alguma coisa diferente. Hoje por exemplo eu descobri as cenas excluídas após os créditos, incluindo uma que a Kat, com razão, briga com a Bianca por ter participado de toda a tramóia da aposta e também reparei que o pobi do Nigel chegou com brie e todo o resto dos penetras na festa na casa do Bogey Lowenstein.
Tem também a química inegável entre a Julia Styles e o Heath Ledger, e a cena icônica da serenata. O poema é inesquecível também, mas assistir essa cena agora, após meus 30 e tantos anos, me faz perceber que o que achava ser uma grande mousse quando era adolescente é na verdade um post de instagram antes do instragram existir.
Apesar do filme passar no teste de Bechdel e entregar 1 (UMA) personagem feminina que não tem homens como centro da vida e é the friend that is too woke, o jeito que os personagens masculinos falam de mulheres é problemático, apesar de eu entender a escolha artística aqui. E a cena do Patrick passando uma menina extremamente bêbada na festa pra um menino aleatório, ser tratada como alívio cômico é mais que problemático. Principalmente porque logo em seguida a Kat também fica bêbada e o Patrick decide não beijar ela por isso. Ou seja, consentimento importa somente com mulheres que ele conhece. Aliado que chama?
Envelheceu bem? Sim. Segue sendo um dos melhores de sua safra, mas com ressalvas.
Veredito: Vinho bom, mas é um daqueles mais premium de supermercado que sempre tão na promoção por 69,99.
ELA É DEMAIS (1999)
Pra ser sincera eu nunca gostei muito desse, então minha análise já não era favorável desde o começo. Confesso também que eu sofri pra conseguir terminar de assistir, demorou 3 dias porque eu dormia toda vez que dava play.
Além do filme se basear na premissa “mude tudo sobre você para conseguir ele”, o que mais me irritou nesse filme é que não existem personagens. Existem ideias, uma história ali em estágios de desenvolvimento, mas ninguém ali parece uma pessoa de verdade e essa não parece uma história plausível. Entendo que em 1h35 você precisa fazer escolhas e não dá pra desenvolver tudo o que você quer, mas dá pra fazer melhor que isso - como demonstrado no filme analisado acima.
Quem são essas pessoas? Como elas se aproximaram? O quê a história delas tem de especial? Ninguém sabe! Mas vamos dedicar 3 minutos do filme pro Brock Hudson ter um número de dança completamente irrelevante pro resto da história!
Se bem que eu entendo, o Matthew Lillard era o único ali que estava trabalhando como se o aluguel tivesse vencido e ele estava pertinho de ser despejado, então ele merecia sim um spotlight. E olha que o elenco têm nomes de peso, incluindo o futuro ganhador do Oscar, Kieran Culkin e a Anna Paquin, que ganhou um Oscar com 11 anos. Infelizmente nenhum deles recebeu um roteiro, somente uma vaga ideia dos arquétipos que eles precisavam interpretar e fizeram o melhor que dava.
Fora a questão de escolher uma protagonista que é padrão de la padrão, enfiar óculos e um macacão manchado de tinta e tentar fazer a audiência acreditar que ela é vista como a menina “mais grotesca” do colégio. Pelo menos não fizeram ela usar um fat suit ou espinhas falsas, o que já é melhor do que muitas outras produções fizeram (e ainda fazem no ano 2025 de nosso senhor).
Mas vou ser justa, esse filme não foi completamente inútil, o “plot” pelo menos rendeu como base principal para o (será que segue) ótimo (?) “Não é mais um besteirol americano”.
Veredito: Leite azedo em vias de talhar
Acabou que peguei duas comédias românticas que saíram no mesmo ano com a Gabriele Union como a amiga invejosa talarica. Foi completamente sem querer, juro.
O que achou dessa nova série? Concorda com meus vereditos? O quê você acha que deveria analisar para a próxima edição? Fale aqui ou cale-se para sempre.
É novo por aqui? Não repara a bagunça! Leia edições passadas:
*Digitado por mim, revisado por ninguém. Erros não são intencionais mas acontecem de forma natural como um rio correndo de encontro ao mar.*
Não lembro do filme em questão, mas vou defender os números musicais irrelevantes.
Assistir filmes de tempos atrás é uma delícia e um exercício eterno de "meu deus como isso era aceitável?" rs eu amo! Adorei a coluna!